Projeto de lei do do Senado prevê fim de concurso público para cadastro reserva
“Essa é uma ótima medida porque os aprovados não vão ficar com a mera
expectativa de serem nomeados. A gente dedica muito tempo e investe em
cursinhos e material, mas sendo cadastro reserva o órgão não tem a
obrigação de chamar. É muito frustrante”, disse o professor de inglês,
André Furtado, de 27 anos, que já fez vários concursos para provimento
de cadastro reserva e nunca foi contratado.
A antropóloga Gabriela Gonçalves, de 26 anos, que estuda para
concursos na área de meio ambiente, concorda que a medida é justa porque
evita o desgaste de não se saber a real possibilidade de entrar no
serviço público.
O economista Andrei Pinto, 27 anos, por outro lado, não concorda com a
proibição das provas exclusivamente para reserva. Segundo ele, a
rotatividade de alguns postos no serviço público exige que funcionários
sejam convocados com rapidez. “Às vezes o contingente de vagas que está
autorizado termina muito rápido, aí terão que fazer outro concurso ou
chamar terceirizado para ocupar alguma vaga em aberto”, explicou.
Segundo o professor de administração da Universidade de Brasília
(UnB) e especialista em mercado de trabalho Jorge Pinho, o projeto de
lei está ligado a questões políticas. Para ele, o fim dos cadastros
deverá estimular os órgãos a contratar mais funcionários terceirizados e
criar cargos de confiança.
“O governo tem usado os terceirizados com finalidade política. A
moeda de troca que se usa com apoiadores e militantes é dar essas
posições, já que eles não têm condições de passar em concurso. É um meio
de burlar a lei e o sistema de mérito. Se um concurso tem validade,
enquanto houver aprovados, eles têm de ser chamados”, disse.
O professor ainda rebateu a ideia de que alguns órgãos não chamam
reservas e fazem novo concurso para convocar os primeiros colocados, com
o argumento de que seriam mais bem preparados. “A diferença de quem
teve o primeiro lugar e quem teve o centésimo é muito pequena. Os
concursos são muito difíceis. As provas são mais elaboradas para forçar o
tropeço do que para avaliar a competência do trabalho. Quem foi
aprovado já pode exercer o cargo”, completou Pinho.
“Os concurseiros estão comemorando, mas essa não é a proposta ideal. É
bom porque desencoraja a prática de se fazer concurso e não chamar
ninguém, mas o ideal seria acabar com todo o cadastro. O Judiciário está
fazendo o que o Legislativo e o Executivo não estão, que é considerar
líquido e certo o direito de o aprovado ser chamado quando há
contratação irregular em funções que seriam de concursados”, explicou o
coordenador do Movimento pela Moralização dos Concursos (MMC) e diretor
presidente do curso preparatório Gran Cursos, José Wilson Granjeiro.
Em maio deste ano, o caso da candidata ao cargo de professora
estadual no Maranhão, Sandra de Morais, que não foi nomeada em
detrimento de terceirizados, fez que o Superior Tribunal de Justiça
(STJ) julgasse a expectativa de contratação direito, líquido e certo, no
caso de contratação de não concursados durante o prazo de validade do
concurso.
Granjeiro prevê que a tendência é a de que diminua a previsão de
vagas em edital e aumente a de cadastro reserva, para que os órgãos
continuem não tendo a obrigação de convocar os candidatos, mas também
não deixem de se garantir. Ele acredita que o mesmo ocorrerá com as
empresas públicas e de economia mista, autorizadas realizar prova para
reserva, mas com isenção de taxa de inscrição. “As empresas também vão
prever vagas em edital porque não vão deixar de cobrar taxa. É com isso
que eles pagam os custos do concurso”, disse.
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